Não sou um velho vencido!
Mesmo à beira da morte
Quero erguer o braço forte
Da razão de ter vivido.
Voz de amor por quanto louvo
Caia-me o coração exangue,
Mas sem traição do meu sangue
Que é a voz do meu povo.
Afonso Duarte
Ode Sputnika
Vulneráveis Satélites
Percorrem o Espaço
Onde quis haver Deuses!
E choro (Netuno e Vênus, Mercúrio e Marte).
— O meu mundo infantil
Acabou hoje.
Tremei! Desferirei dos céus ímpias setas,
Minha faixa de Arco-íris como um Rei
Que reine entre os Planetas.
Percorrem o Espaço
Onde quis haver Deuses!
E choro (Netuno e Vênus, Mercúrio e Marte).
— O meu mundo infantil
Acabou hoje.
Tremei! Desferirei dos céus ímpias setas,
Minha faixa de Arco-íris como um Rei
Que reine entre os Planetas.
Recordação
Eu bem sei
Que rodo em muitas esferas
E não sei
Por onde me levas, poesia.
Quando vou,
E não encontro ninguém,
Tenho medo do que sei:
Um filho de sua mãe
E seu pai,
Ou algum longínquo avó,
A quem um poeta sai.
Será também o Deus da infância
E a árvore sagrada
De frutos proibidos,
Na fragrância
Com que rasguei meus vestidos
E não retirei os ninhos...
Enchi de rosas a terra
E levo nas mãos espinhos.
Que rodo em muitas esferas
E não sei
Por onde me levas, poesia.
Quando vou,
E não encontro ninguém,
Tenho medo do que sei:
Um filho de sua mãe
E seu pai,
Ou algum longínquo avó,
A quem um poeta sai.
Será também o Deus da infância
E a árvore sagrada
De frutos proibidos,
Na fragrância
Com que rasguei meus vestidos
E não retirei os ninhos...
Enchi de rosas a terra
E levo nas mãos espinhos.
Canção de El-Rei Dinis
Maria: anda o gadinho a trabalhar
Em plena florescência,
É um zumbido de ouro
No pasto em flor da abelha,
E temos o inverno até lá Março.
Um lindo Sol doente,
Como um poeta lírico,
Abre ao Inverno a Primavera:
E, ao néctar da abelha
Que é cor na corola
E música sutil do pólen,
Apetece cantar com Dom Dinis:
"Ai, flores, ai, flores do verde ramo".
El-rei Dinis esteve no Castelo
Onde eu existo a uma distância pouca,
Troveiro como um choupo à beira-rio
Ó Maria,
Apetece cantar com Dom Dinis:
"Ai, flores, ai, flores do verde pinho",
Com ritmo que leva olhos e tudo,
Filhas de lavradores
Começam a cavar o chão pousio:
Margaridas e crucíferas,
Lírios brancos e roxos,
Maria, há muitas flores para as abelhas.
A terra é graciosa,
Cá mesmo na prisão, descalço e nu,
Na derrota dos anos.
— Cantar velho, Maria,
Com tanta flor de hastes eretas
Toucando o verde prado?
Em plena florescência,
É um zumbido de ouro
No pasto em flor da abelha,
E temos o inverno até lá Março.
Um lindo Sol doente,
Como um poeta lírico,
Abre ao Inverno a Primavera:
E, ao néctar da abelha
Que é cor na corola
E música sutil do pólen,
Apetece cantar com Dom Dinis:
"Ai, flores, ai, flores do verde ramo".
El-rei Dinis esteve no Castelo
Onde eu existo a uma distância pouca,
Troveiro como um choupo à beira-rio
Ó Maria,
Apetece cantar com Dom Dinis:
"Ai, flores, ai, flores do verde pinho",
Com ritmo que leva olhos e tudo,
Filhas de lavradores
Começam a cavar o chão pousio:
Margaridas e crucíferas,
Lírios brancos e roxos,
Maria, há muitas flores para as abelhas.
A terra é graciosa,
Cá mesmo na prisão, descalço e nu,
Na derrota dos anos.
— Cantar velho, Maria,
Com tanta flor de hastes eretas
Toucando o verde prado?
O Medo das Sombras
Rondam sombras pelas telhas:
Não é vento são andanças
De bruxas! As bruxas velhas
Chupam o sangue às crianças.
A mãe dorme, a filha ao pé,
Em casa de telha vã
Onde nem há chaminé;
E de interiores deserta
É toda uma casa aberta
A chuva e sol da manhã.
E a filha diz para a mãe,
Como a mãe responde à filha,
Porque este drama não tem
A mais do que mãe e filha:
— Mãezinha, que é, que é?
— Não luz vidro no soalho,
Nem há lume de tição;
Está a gatinha ao borralho.
Oh! dorme, meu coração,
Susto, filha, não te dê:
A água do bebedouro
Espelha luz que se vê.
Longe vá o mau agouro,
Benza-me a luz que nos olha:
Quem não existe não é.
O pucarinho de folha
Lá está no mesmo pé.
— Pela telha destelhada,
Minha mãe, minha mãezinha,
Voar negro de andorinha
Com risos de gargalhada!
— Água da bica, lá fora,
Corre, corre, que se chora:
Filha minha, não tens sede?
— Como peixinhos na rede,
Sombras, ó mãe, na parede!
Não é nada não é nada:
Buraco da fechadura,
Em rosa de luz coada
Será a luz da madrugada
Que vem em nossa procura.
Não é vento são andanças
De bruxas! As bruxas velhas
Chupam o sangue às crianças.
A mãe dorme, a filha ao pé,
Em casa de telha vã
Onde nem há chaminé;
E de interiores deserta
É toda uma casa aberta
A chuva e sol da manhã.
E a filha diz para a mãe,
Como a mãe responde à filha,
Porque este drama não tem
A mais do que mãe e filha:
— Mãezinha, que é, que é?
— Não luz vidro no soalho,
Nem há lume de tição;
Está a gatinha ao borralho.
Oh! dorme, meu coração,
Susto, filha, não te dê:
A água do bebedouro
Espelha luz que se vê.
Longe vá o mau agouro,
Benza-me a luz que nos olha:
Quem não existe não é.
O pucarinho de folha
Lá está no mesmo pé.
— Pela telha destelhada,
Minha mãe, minha mãezinha,
Voar negro de andorinha
Com risos de gargalhada!
— Água da bica, lá fora,
Corre, corre, que se chora:
Filha minha, não tens sede?
— Como peixinhos na rede,
Sombras, ó mãe, na parede!
Não é nada não é nada:
Buraco da fechadura,
Em rosa de luz coada
Será a luz da madrugada
Que vem em nossa procura.
Ex-voto da Paisagem de Coimbra ao Pôr-do-Sol
Sangue de Inês, Coimbra, é o teu ex-voto.
Ah, quem o crime estranha, a morte chora?
Inês, ó miséria, teu nome invoco
Ao rito da paisagem que o memora.
Em teu perfil de magoada ausente
Que Coimbra de lágrimas incensa,
Teu sangue, à mártir, exilou em Poente,
Doou-te o amor espiritual presença.
Teu infortúnio, aos meus lábios, timbra,
Sangüínea a golpes na hora do sol-pôr,
Que aos outonais poentes de Coimbra
O sol é em sacrifício do teu amor,
E em teu lago, cismátíco paúl,
Olho as nuvens do Céu cor de martírios:
Anda tua Alma poluindo o Azul,
Dorida luz viática de círios.
E ao que esta luz fatídica delira
E ao que a paisagem tem de insatisfeito,
Com meus dedos em febre, as mãos na Lira,
Soluçarei cuidados do teu peito.
Teu vulto de "Mors-amor" recomponho
Quando cai em delíquio a tarde exangue:
— E é a paisagem minha Ágora de sonho ,
— E é o poente a Legenda do teu sangue.
"Mors-amor", sinto! é a expressão do Outono
Que vem dos choupos ao cair da folha!
"Mors-amor", ouço! em ritos de abandono
É o olor das pétalas que o vento esfolha!
Desígnio de algum choupo ou cedro velho
Quando o Sol abre o cálice vermelho
Da imensa flor da tarde, eu sinto, eu sei!
Oh!, mãos em holocausto, eu quero vê-los,
Ao Poente, libando os teus cabelos,
Como se fossem áulicos de El-Rei.
Ah, quem o crime estranha, a morte chora?
Inês, ó miséria, teu nome invoco
Ao rito da paisagem que o memora.
Em teu perfil de magoada ausente
Que Coimbra de lágrimas incensa,
Teu sangue, à mártir, exilou em Poente,
Doou-te o amor espiritual presença.
Teu infortúnio, aos meus lábios, timbra,
Sangüínea a golpes na hora do sol-pôr,
Que aos outonais poentes de Coimbra
O sol é em sacrifício do teu amor,
E em teu lago, cismátíco paúl,
Olho as nuvens do Céu cor de martírios:
Anda tua Alma poluindo o Azul,
Dorida luz viática de círios.
E ao que esta luz fatídica delira
E ao que a paisagem tem de insatisfeito,
Com meus dedos em febre, as mãos na Lira,
Soluçarei cuidados do teu peito.
Teu vulto de "Mors-amor" recomponho
Quando cai em delíquio a tarde exangue:
— E é a paisagem minha Ágora de sonho ,
— E é o poente a Legenda do teu sangue.
"Mors-amor", sinto! é a expressão do Outono
Que vem dos choupos ao cair da folha!
"Mors-amor", ouço! em ritos de abandono
É o olor das pétalas que o vento esfolha!
Desígnio de algum choupo ou cedro velho
Quando o Sol abre o cálice vermelho
Da imensa flor da tarde, eu sinto, eu sei!
Oh!, mãos em holocausto, eu quero vê-los,
Ao Poente, libando os teus cabelos,
Como se fossem áulicos de El-Rei.
Rosas e Cantigas
Eu hei-de despedir-me desta lida,
Rosas? - Árvores! hei-de abrir-vos covas
E deixar-vos ainda quando novas?
Eu posso lá morrer, terra florida!
A palavra de adeus é a mais sentida
Deste meu coração cheio de trovas...
Só bens me dê o céu! eu tenho provas
Que não há bem que pague o desta vida.
E os cravos, manjerico, e limonete,
Oh! que perfume dão às raparigas!
Que lindos são nos seios do corpete!
Como és, nuvem dos céus, água do mar,
Flores que eu trato, rosas e cantigas,
Cá, do outro mundo, me fareis voltar.
Rosas? - Árvores! hei-de abrir-vos covas
E deixar-vos ainda quando novas?
Eu posso lá morrer, terra florida!
A palavra de adeus é a mais sentida
Deste meu coração cheio de trovas...
Só bens me dê o céu! eu tenho provas
Que não há bem que pague o desta vida.
E os cravos, manjerico, e limonete,
Oh! que perfume dão às raparigas!
Que lindos são nos seios do corpete!
Como és, nuvem dos céus, água do mar,
Flores que eu trato, rosas e cantigas,
Cá, do outro mundo, me fareis voltar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)